SERMÃO DE SÃO JOÃO MARIA VIANNEY SOBRE A CONTRIÇÃO
“INFELIZ DE MIM, POIS PEQUEI MUITO DURANTE MINHA VIDA. (CONFISSÕES DE SANTO AGOSTINHO)
“TAL ERA, MEUS IRMÃOS, A LAMÚRIA DE SANTO AGOSTINHO QUANDO ELE RECORDAVA OS ANOS DE SUA VIDA EM QUE ELE ESTEVE MERGULHADO COM TANTO FUROR NO VÍCIO INFAME DA IMPUREZA. “AH! INFELIZ DE MIM, POIS PEQUEI MUITO DURANTE OS DIAS DE MINHA VIDA.” E TODA VEZ QUE ESTE PENSAMENTO LHE VINHA, ELE SENTIA O CORAÇÃO DEVORADO E DILACERADO PELO REMORSO
“Ó MEU DEUS! EXCLAMAVA ELE, UMA VIDA PASSADA SEM VOS AMAR! Ó MEU DEUS, QUANTOS ANOS PERDIDOS! AH! SENHOR, DIGNAI-VOS, EU VOS CONJURO, EM NÃO SE RECORDARDES DE MINHA FALTAS PASSADAS!”
AH! QUE LÁGRIMAS PRECIOSAS, AH! QUE LAMENTOS SALUTARES QUE DE UM GRANDE PECADOR FIZERAM TÃO GRANDE SANTO. Ó! COMO UM CORAÇÃO DESPEDAÇADO DE DOR GANHOU PRONTAMENTE A AMIZADE DE SEU DEUS! AH! QUEIRA DEUS QUE A CADA VEZ QUE PASSARMOS DIANTE DE NOSSOS OLHOS OS NOSSOS PECADOS POSSAMOS DIZER COM TANTO LAMENTO QUANTO SANTO AGOSTINHO: “AH! INFELIZ DE MIM, POIS PEQUEI MUITO DURANTE OS ANOS DE MINHA VIDA! MEU DEUS, TENDES MISERICÓRDIA DE MIM!
Ó! QUE NOSSAS LÁGRIMAS BROTEM, E QUE NOSSA VIDA NÃO SE PARECE MAIS A MESMA! SIM, MEUS IRMÃOS, CONVENHAMOS, TODOS, TANTO QUANTO SOMOS, COM TANTO DE DOR QUANTO DE SINCERIDADE, SOMOS CRIMINOSOS DIGNOS DE CARREGAR TODA A CÓLERA DE UM DEUS JUSTAMENTE IRRITADO POR NOSSOS PECADOS, QUE, TALVEZ, SÃO MAIS MÚLTIPLOS QUE OS CABEÇOS DE NOSSA CABEÇA. CONTUDO, BENDIGAMOS PARA SEMPRE A MISERICÓRDIA DE DEUS QUE NOS ABRE EM SEUS TESOUROS UM REMÉDIO PARA NOSSAS DESGRAÇAS! SIM, MEUS IRMÃOS, QUALQUER QUE TENHA SIDO NOSSA CONDUTA, SOMOS ASSEGURADOS DE NOSSO PERDÃO, SE, AO EXEMPLO DO FILHO PRÓDIGO, NOS LANÇARMOS COM UM CORAÇÃO DESPEDAÇADO DE DOR AOS PÉS DO MELHOR DE TODOS OS PAIS. QUAL É MEU PROPÓSITO, MEU IRMÃO? EI-LO AQUI: É DE VOS MOSTRAR QUE PARA OBTER O PERDÃO DE NOSSOS PECADOS, É PRECISO QUE NOSSO LAMENTO CONTENHA QUATRO QUALIDADES: 1º É PRECISO QUE O PECADOR ODEIE E DETESTE SINCERAMENTE SEUS PECADOS PELA CONTRIÇÃO; 2º QUE ELE TENHA CONCEBIDO UM FIRME PROPÓSITO DE NÃO MAIS CAIR NESSES PECADOS; 3º QUE ELE FAÇA UMA HUMILDE CONFISSÃO AO MINISTRO DO SENHOR; E 4º QUE ELE REPARE, O TANTO QUANTO ELE PODE, A INJURIA FEITA A DEUS E O ERRO AO PRÓXIMO
PARA ENTENDEREM O QUE É A CONTRIÇÃO, OU SEJA, A DOR QUE DEVEMOS SENTIR POR NOSSOS PECADOS, PRECISARIA VOS FAZER CONHECER, DE UM LADO, O HORROR QUE O PRÓPRIO DEUS TEVE DELES, OS TORMENTOS QUE ELE SUPORTOU POR NÓS, OBTENDO O PERDÃO JUNTO DE SEU PAI; E, DO OUTRO, OS BENS QUE PERDEMOS AO PECAR E OS MALES QUE NOS IMPELIMOS PARA A OUTRA VIDA, E ISSO, NÃO SERÁ JAMAIS DADO AO HOMEM DE COMPREENDER. AONDE IREI VOS CONDUZIR, MEUS IRMÃOS, PARA VOS FAZER CONHECER ISSO? SERIA NO FUNDO DOS DESERTOS, ONDE TANTOS GRANDES SANTOS PASSARAM VINTE, TRINTA, QUARENTA, CINQÜENTA E MESMO OITENTA ANOS, CHORANDO POR SUAS FALTAS, QUE SEGUNDO O MUNDO NÃO SÃO FALTAS? AH! NÃO, NÃO, VOSSOS CORAÇÕES NÃO SERIAM AINDA AÍ TOCADOS. SERIA NA PORTA DO INFERNO PARA ESCUTAR AÍ OS GRITOS, OS UIVOS E OS RANGER DE DENTES OCASIONADOS PELO ÚNICO PRANTO DE SEU PECADO? AH! DOR AMARGA, MAS DOR E LAMENTOS INFRUTÍFEROS E INÚTEIS! AH! NÃO, NÃO, MEUS IRMÃOS, AINDA NÃO É AÍ EM QUE APRENDEREIS A CHORAR VOSSOS PECADOS COM A DOR E O LAMENTO QUE DEVEIS TER POR ELES! POIS ISSO SE DÁ NO PÉ DESTA CRUZ AINDA TINGIDA DO SANGUE PRECIOSO DE UM DEUS QUE APENAS O DERRAMOU PARA APAGAR NOSSOS PECADOS. AH! SE ME FOSSE PERMITIDO VOS CONDUZIR NESSE JARDIM DE DORES ONDE UM DEUS IGUAL A SEU PAI CHORA NOSSOS PECADOS, NÃO COM LÁGRIMAS ORDINÁRIAS, MAS COM TODO SEU SANGUE QUE ESCORRE POR TODOS OS POROS DE SEU CORPO, E, ONDE SUA DOR SE FAZ TÃO VIOLENTA QUE ELE A LANÇA EM UMA AGONIA QUE PARECE LHE RETIRAR A VIDA ENQUANTO LHE RASGA O CORAÇÃO. AH! SE EU PUDESSE VOS LEVAR EM SEU RASTRO, MOSTRÁ-LO CARREGANDO SUA CRUZ NAS RUAS DE JERUSALÉM: TANTOS PASSOS, TANTAS QUEDAS E TANTAS VEZES LEVANTADO COM CHUTES. AH! SE EU PUDESSE VOS FAZER APROXIMAR DESTE CALVÁRIO ONDE UM DEUS MORRE CHORANDO NOSSOS PECADOS! AH! DIR-NOS-ÍAMOS AINDA: SERIA PRECISO QUE DEUS NOS DESSE ESTE AMOR ARDENTE DO QUAL ELE TINHA ABRASADO O CORAÇÃO DO GRANDE BERNARDO, O QUAL, A ÚNICA VISTA DA CRUZ, DERRAMOU LÁGRIMAS COM TANTA ABUNDÂNCIA! AH! BELA E PRECIOSA CONTRIÇÃO, COMO AQUELE QUE TE POSSUI É FELIZ!
MAS PARA QUEM EU VOU FALAR DISSO, QUEM É AQUELE QUE A ENCERRA EM SEU CORAÇÃO? INFELIZMENTE! EU NÃO SEI. SERIA PARA ESSE PECADOR ENDURECIDO QUE, TALVEZ, DEPOIS DE VINTE ANOS, TRINTA ANOS, ABANDONOU SEU DEUS E SUA ALMA. AH! NÃO, NÃO, SERIA FAZER O MESMO QUE AQUELE QUE QUERIA AMACIAR UM ROCHEDO JOGANDO ÁGUA EM CIMA DELE, ENQUANTO QUE ELE APENAS O ENDURECIA CADA VEZ MAIS. SERIA PARA ESSE CRISTÃO QUE TEM DESPREZADO AS MISSÕES, RETIROS E JUBILEUS E TODAS AS INSTRUÇÕES DE SEUS PASTORES? AH! NÃO, NÃO, SERIA QUERER AQUECER A ÁGUA A COLOCANDO NO GELO. SERIA PARA ESSAS PESSOAS QUE SE CONTENTAM EM CELEBRAR SUAS PÁSCOAS, CONTINUANDO NO MESMO TIPO DE VIDA, QUE TODOS OS ANOS TEM OS MESMOS PECADOS PARA CONTAR? AH! NÃO, NÃO, ESSAS SÃO VÍTIMAS QUE A CÓLERA DE DEUS ENGORDA PARA SERVIR DE ALIMENTOS ÀS CHAMAS ETERNAS! AH! DIGAMOS MAIS, ELAS SÃO SEMELHANTES A CRIMINOSOS QUE TEM OS OLHOS VEDADOS E QUE, ESPERANDO SEREM EXECUTADOS, SE ENTREGAM A TUDO QUE SEUS CORAÇÕES DETERIORADOS PODEM DESEJAR. SERIAM PARA ESSES CRISTÃOS QUE SE CONFESSAM A CADA TRÊS SEMANAS OU A CADA MÊS, QUE A CADA DIA CAEM NOVAMENTE? AH! NÃO, NÃO, ESSES SÃO CEGOS QUE NÃO SABEM NEM O QUE FAZEM NEM O QUE DEVEM FAZER. A QUEM PODEREI, PORTANTO, DIRIGIR A PALAVRA? INFELIZMENTE! EU NÃO SEI… Ó MEU DEUS! ONDE É PRECISO IR PARA ENCONTRÁ-LA, A QUEM É PRECISO PEDI-LA? AH, SENHOR, EU SEI DE ONDE ELA VEM E QUEM A CONCEDE; ELA VEM DO CÉU, E É VOS QUE A CONCEDES. Ó MEU DEUS! CONCEDEI-NOS, POR FAVOR, ESTA CONTRIÇÃO QUE RASGA E DEVORA NOSSOS CORAÇÕES. AH! ESTA BELA CONTRIÇÃO QUE DESARMA A JUSTIÇA DE DEUS, QUE TRANSFORMA NOSSA ETERNIDADE DESGRAÇADA EM UMA ETERNIDADE BEM AVENTURADA! AH! SENHOR, NÃO NOS RECUSEIS ESTA CONTRIÇÃO QUE INVERTE TODOS OS PROJETOS E OS ARTIFÍCIOS DO DEMÔNIO; ESTA CONTRIÇÃO QUE NOS DÁ TÃO PRONTAMENTE A AMIZADE DE DEUS! AH! BELA VIRTUDE, COMO TU ÉS NECESSÁRIA, MAS COMO TU ÉS RARA! CONTUDO, SEM ELA, NADA DE PERDÃO, SEM ELA, NADA DE CÉU; DIZEMOS MAIS, SEM ELA, TUDO ESTÁ PERDIDO PARA NÓS, PENITÊNCIAS, CARIDADE E ESMOLAS E TUDO O QUE PODEMOS FAZER”
.....São João Maria Vianney nasceu em Dardily, Diocese de Lião, na França, no dia 8 de maio de 1786, filho de Mateus Vianney e Maria Belusa, piedosos camponeses.Desde a infância, deu indício de uma grande santidade. Certo dia, a mão deu ao filho uma imagem de Nossa Senhora que ele nunca deixava. Carregando-a respeitosamente nos braços a onde quer que fosse, muitas vezes, no estábulo, sem que ninguém o visse, costumava rezar longo tempo diante dela.
.....Com oito anos já acostumava, com palavras e com o exemplo, ensinar o Rosário de Nossa Senhora às crianças.
.....Quando a Revolução Francesa estourou, viveu dias tristes, vendo as igrejas fechadas, os padres perseguidos, etc.
.....De grande predileção pelos pobres, pelos abandonados que nada possuem, reunia-os pelos caminhos, pelos bosques e alegremente levava-os para sua casa, onde os pais, reputados desde há muito pela caridade, acolhiam a todos os desventurados.
.....Aos treze anos, com um fervor fora do comum, João Maria Vianney fez a Primeira Comunhão. Neste dia, ele dizia baixinho para si mesmo: "Eu serei padre! Eu serei padre!"
.....Depois ele o disse a seu pai. O pai, homem prudente e conhecedor da vida e dos arroubos da juventude, fê-lo esperar dois anos, para observá-lo e para experimentá-lo.
.....Afinal, João Maria Vianney entrou na escola fundada pelo Padre Balley, então pároco de Eculy.
.....Como seminarista foi modelo, mas como estudante, embora de comportamento exemplar, sua inteligência, porém, era muito limitada. Por isso chegou a ser despedido do Seminário, Mas, ajudado pelo Padre Balley, teve uma segunda oportunidade e, vencendo todas as barreiras, chegou ao grande dia de sua ordenação Sacerdotal. Esta se deu no 13 de agosto d 1815. Estava com 29 anos.
.....Depois de ordenado passou três anos como auxiliar do Padre Balley, e teve a oportunidade de rever com seu dedicado mestre toda a Teologia.
.....Em 1818 foi nomeado para Ars, onde ficou até sua morte.
.....Quando estava a caminho, já próximo de Ars, deu-se um fato muito edificante. O santo pediu informação a um menino sobre como chegar até Ars. Depois de ouvir suas explicações, o santo lhe disse: “Você me mostrou o caminho de Ars, e eu te mostrarei o caminho do céu.” Este menino, chamado Antonio Grive, foi o primeiro a paroquiano a morrer depois de São Maria Vianney, que assim lhe ensinou o caminho do céu.
.....Os habitantes de Ars, quanto à religião, viviam indiferentes. Quatro grandes males afastavam aquelas almas do caminho do bem: a bebida, a blasfêmia os bailes e o trabalho no domingo.
Nosso Santo pôs-se imediatamente ao trabalho para acabar com estes. Suas armas foram a oração, a penitência e os sermões.
.....Bem antes do raiar da aurora, levantava-se e ia prostrar-se diante do altar. Ali ajoelhado, suplicava por longo tempo a Deus pela conversão de sua paróquia.
.....À noite disciplinava-se até o sangue. O pouco que dormia, era sem nenhum conforto.
.....Em seus sermões, procurou mostrar ao povo com bastante realismo a gravidade do pecado, o valor da alma, do sangue de Nosso Senhor, etc.
.....Cinco anos depois, Ars apresentava-se com outra fisionomia: acabaram os trabalhos no domingo, a blasfêmia, que antes se escutava pelos campos, foi substituída por orações e cânticos religiosos, o vício da embriaguez foi afastado e as danças foram paulatinamente sendo eliminadas.
.....Quando tudo começou a melhorar, veio a perseguição dos homens, a calúnia dos mal formados.
.....Às perseguições dos homens, juntou-se a do demônio, furioso por ver que aquele humilde sacerdote lhe estava arrebatando as almas. E a luta foi terrível. Durou trinta e cinco anos. Fantasmas horríveis, insultantes vociferações transformavam sua casa durante a noite num verdadeiro inferno, com pesadelos assustadores e mesmo ataques diretos do demônio. Certa vez o demônio incendiou a cama do Cura d’Ars. Referindo-se a isto, S. João Maria Vianney dizia: “Não podendo pegar o pássaro, queimou a gaiola.”
.....Sustentado pela graça divina, João Maria Vianney, saiu vitorioso de todos os assaltos do maligno. E Nossa Senhora, aparecendo-lhe repetidas vezes, encorajava-o.
.....Deus lhe concedeu o dom dos milagres. Ele, por humildade atribuía os milagres que fazia a Santa Filomena, de quem era grande devoto.
.....Em 1824, abriu uma escola gratuita para as meninas. Logo depois apareceu um orfanato contíguo.
.....O zelo de São João Maria Vianney, seu desejo de fazer o bem às almas, e as graças que Nosso Senhor o enriqueceu foram a causa daquela contínua peregrinação de todas as partes da França e mesmo de outros lugares, de almas que vinham ouvir as lições de um santo, de pecadores que vinham encontrar, junto ao confessionário de um humilde sacerdote, a paz com Deus, perdida por muitos anos.
.....O programa diário de nosso Santo era exaustivo: de madrugada, à uma hora, ia à igreja para rezar, antes da aurora, confessava as mulheres, às seis, no verão e às sete no inverno, celebrava a Santa Missa. Depois da ação de graças, os peregrinos rodeavam-nos, implorando bênçãos, curas, palavras de conforto, conversões, conselhos para os mais variados casos, etc. Às dez horas recitava parte de seu breviário, depois ia sentar-se no confessionário; às onze horas era o catecismo, aquele catecismo que ficou famoso; depois de um almoço, como diríamos nós, de passarinho, era a clássica visita aos doentes, quando então a multidão se comprimia para vê-lo passar, pata tocar-lhe as vestes. Depois de rezar as Vésperas e as Completas, voltava para o confessionário onde permanecia, muitas vezes até altas horas da noite. Chegava a passar 16 horas por dia no confessionário.
.....Desejoso de solidão para poder, como dizia, “chorar sua pobre vida", duas vezes São João Maria Vianney tentou deixar a paróquia. Mas o povo cercou-lhe o caminho e o levou de volta para a igreja.
.....São João Maria Vianney morreu no dia 4 de agosto de 1859.
.....Os peregrinos e paroquianos desfilaram diante de seu corpo durante quarenta e oito horas sem interrupção.
.....Chegando à mais sublime perfeição, ao mais alto grau da união com Deus, só se falava em Ars, das virtudes do Vigário, de sua bondade, sua paciência, desvelo, caridade, etc.
.....São João Maria Vianney foi beatificado por São Pio X aos 5 de janeiro de 1905 e canonizado por Pio XI no dia 31 de maio de 1925, poucos dias depois de Santa Teresinha.
.....Ars tornou-se rapidamente um dos grandes centros de peregrinação. Junto à antiga igreja de Ars, conforme o desejo do Santo, foi construída uma magnífica igreja dedicada a Santa Filomena. Num belo altar lateral desta igreja, foi colocado o corpo de São João Maria Vianney.